quinta-feira, 24 de março de 2011

O Trabalho como produção de significado



Por Patrícia Carvalho*

Desde a Revolução Científica passando pela Revolução Industrial, da Informação e agora do Conhecimento, grandes foram as transformações sócio-econômicas e ético-culturais que afetaram profundamente a existência humana gerando paradigmas e crises de padrões.

Com as mudanças ocorridas, também mudou o conceito de trabalho ao longo do tempo de acordo com o contexto histórico e social. No final do século XX a interdependência entre sociedade e organizações fortaleceu-se, pois as empresas ampliaram seu papel na vida das pessoas e da sociedade como todo.

A cada mudança o indivíduo depara-se com uma nova realidade, a qual é necessária adaptar-se e, o trabalho em cada momento, assume um significado diferente, mas não deixa de ser a busca por atender às suas necessidades, atingir seus objetivos e realizar-se plenamente.

Nas sociedades antigas o trabalho estava ligado às necessidades básicas e algo que não valorizava nem a tarefa nem o indivíduo. Depois o trabalho passou a ser percebido como o esforço físico ou intelectual direcionado para algum fim.

A valorização extrema do trabalho ocorreu na era industrial, quando libertou e deu possibilidade ao homem de transformar a natureza, as coisas e a sociedade passando então, a ter significados diferentes para as empresas, que o entendiam como importante para a manutenção do sistema produtivo; para os trabalhadores, como elemento constitutivo e fundamental de sua personalidade e para a sociedade, como integrador social.

Na sociedade moderna o trabalho foi compreendido como o esforço coletivo, em que toda humanidade deveria participar.

Atualmente, com a globalização da economia, o trabalho continua a ser a atividade central que estrutura a vida dos indivíduos e da sociedade em geral, mas surgem vários significados não para o trabalho, mas para os trabalhadores, que deixaram de ser empregados e passaram a ser considerados como parceiros, colaboradores, recursos humanos, capitais humanos, talentos humanos etc., mas não se pode perder de vista que o significado do trabalho, o sentido que ele tem para quem o realiza é o que possibilita à organização alcançar eficácia, mantendo-se competitiva.

Alguns fatores devem ser considerados importantes na produção de sentido para o trabalho realizado, como por exemplo: autonomia, reconhecimento, possibilidade de desenvolvimento e crescimento, sentimento de pertencer ao grupo, gerar satisfação e realização, afirmação de identidade por meio das atribuições individuais e o trabalho precisa gerar um impacto positivo não apenas para quem o realiza, mas para a sociedade no geral.

E aí? Que sentido tem o trabalho que as pessoas realizam na sua empresa?

Pense nisso.

Um Abraço.

*Patrícia Carvalho - Publicitária, economista, psicóloga organizacional pós-graduada com MBA em Gestão de Pessoas e mestranda em Psicologia Social (PUC-SP). Palestrante, consultora, há 15 anos pesquisa e desenvolve projetos nas áreas de desenvolvimento humano e organizacional. Coordenadora de pesquisa e desenvolvimento do Programa Aplicado de Estudos da Personalidade – PAEP e Projeto de Apoio Psicossocial e Vocacional – PAP.


terça-feira, 1 de março de 2011

O PODER DE QUEM PAGA A CONTA


Floriano Serra *

Alguns leitores já devem ter percebido que, quando por alguma razão certos clientes de prestadores de serviços se sentem contrariados, não hesitam em dar mostras públicas do seu poder e soltam pérolas como:
— Eu estou pagando! Então exijo que seja feito assim!

Nestes casos, é de se acreditar que a posse de dinheiro não seja proporcional à posse da boa educação. Infelizmente, em algumas famílias, também existe a presença de frases que pretendem deixar claro quem é que manda no pedaço:
— Enquanto você viver às minhas custas, as coisas aqui vão ser do jeito que eu quero!

Em um grande número de empresas, guardadas as devidas proporções e contextos, ocorrem situações análogas àquelas: como elas pagam os salários e concedem os benefícios, o empregado tem que se submeter a condições e práticas nem sempre profissionais e saudáveis, como atestam os recentes e inúmeros casos de assédios, “burnouts” e “bullyings” que a imprensa vem divulgando.

Nesses exemplos, há um lamentável e elementar erro de interpretação do significado e do objetivo do chamado poder econômico. Não custa lembrar que a finalidade desse poder não é impor nem obrigar pessoas a fazerem o que não querem ou algo que contrarie suas condições, seus valores e seus direitos. Aliás, para conseguir isso ninguém precisa de poder econômico: basta um ultrapassado chicote – ou chibata — usado farta e desumanamente no tempo da escravidão.

O poder econômico também não existe para comprar corpos, consciências, corações e mentes – numa organização, essas coisas não estão à venda, mas estão à inteira disposição de quem as convide para trilhar o caminho da ética, da justiça, da legalidade, do Bem. Estes comentários pretendem convidar determinados profissionais para uma reflexão sobre uma premissa óbvia, mas nem sempre observada: o poder que emana do dinheiro – seja na forma de pagamento, mesada ou salário – não dá a nenhum tipo de liderança o direito de, sob qualquer pretexto, comprometer a qualidade de vida e a auto-estima dos liderados.

A propósito deste assunto, permitam-se transcrever uma frase admirável, atribuída a certo Ed Liden, sobre o qual não tenho maiores informações, mas que certamente sabia o que dizia em matéria de gestão de pessoas: “Pode-se comprar o tempo de um Homem. Pode-se comprar a presença física de um Homem em determinado lugar. Pode-se até mesmo comprar um número exato de habilidosas ações musculares por hora e por dia. Mas não se pode comprar entusiasmo. Não se pode comprar espírito de iniciativa. Não se pode comprar lealdade. Não se pode comprar a dedicação do coração, da mente e da alma. Essas coisas você tem que merecer.”

Em resumo: o poder econômico que não conduz as pessoas à felicidade, não merece o nome de poder.
Talvez chicote - ou chibata.

Floriano Serra é psicólogo, palestrante e docente de seminários comportamentais. É diretor-executivo da SOMMA4 Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano no trabalho. Ex-diretor de RH de empresas nacionais e multinacionais.